A arquitetura em favor da pedagogia e saúde na ‘nova escola’

O mundo está diferente, não podemos negar. Relações de família, trabalho, educação sofreram adaptações importantes mudando desde calendários até prioridades de vida. A educação mostrou sua importância para a sociedade e a sua necessidade de modernização passou a ser evidente.

A fim de diminuir o risco de propagação da doença, tudo e todos estão se adaptando, apresentado questionamentos saudáveis para o rumo da nossa sociedade. Vemos educação e saúde de mãos dadas para a segurança e bem estar de todos nós. O futuro das escolas brasileiras finalmente tomou seu devido protagonismo e vem sendo discutido em diversas esferas.

Destas discussões surgiram várias recomendações e notou-se que para a volta da vida em sociedade, a reabertura das escolas é fundamental. A fim de diminuir o risco de propagação da covid-19, foram criados diversos protocolos e orientações como, por exemplo, o distanciamento de carteiras dentro de salas de aula, criação de novos espaços de higienização, novos controles de acessos e limitação do uso de áreas comuns. Recomendações que, além de envolverem os âmbitos da saúde e da educação, exigem adaptações do espaço físico escolar.

Pensando em viabilizar a abertura das escolas, levantamos as seguintes questões: como poderíamos implementar fisicamente esses novos requisitos de maneira que causassem um impacto positivo nos usuários, encarando estas mudanças como aliadas, usando esta oportunidade para alavancar mudanças no ambiente de ensino que sejam saudáveis, proporcionem segurança, saúde física e emocional para os usuários? Como podemos usar isso como chance de criar ambientes de ensino mais didáticos, personalizados e mais direcionados a pedagogia de cada escola?

Imaginemos professores, crianças e adolescentes, depois de meses sem voltar para a escola, entrando em um ambiente transformado, com controles de temperatura, uso de máscaras e espaços que impedem qualquer socialização. Consideremos ainda toda a bagagem de insegurança de meses de isolamento. Não seria de pensarmos na adaptação destes ambientes a fim de mostrar uma ‘escola nova’, com espaços menos consumistas e um aprendizado mais individualizado? Não poderíamos usar o poder da arquitetura para diminuir o impacto emocional nas crianças e professores?

UTILIZANDO A ARQUITETURA AO FAVOR DE TODOS

Como já foi comprovado e utilizado em muitas pedagogias, o espaço escolar é um participante ativo em qualquer tipo de aprendizagem e importantíssimo facilitador da criatividade e liberdade de expressão de professores e alunos. Além disso, é na escola que crianças e professores constroem o desejo de conhecimento. Essa relação de desejo é facilmente estabelecida quando os ambientes são pensados para isso.

Considerando a importância do espaço físico nas escolas, sugerimos algumas alterações que tem pequeno impacto financeiro, mas que, quando bem aplicadas e em conjunto, podem causar um impacto muito positivo. São sugestões que facilitarão a implementação das recomendações do Ministérios da Saúde e Educação e irão colaborar com o bem estar de alunos e professores na reabertura das escolas.

De acordo com a arquiteta, que também possui experiência adquirida na sua formação em Harvard, algumas alterações de pequeno impacto financeiro, quando bem aplicadas, podem ter um efeito muito positivo. São sugestões que facilitarão a implementação das recomendações do Ministérios da Saúde e Educação e irão colaborar com o bem estar de alunos e professores na reabertura das escolas:

- Esvaziar o que não é necessário dentro da sala de aula e corredores – deste modo é possível perceber que há muito mais espaço do que se imaginava. Além de ser uma recomendação do Ministério da Saúde, também é uma ótima oportunidade para ser mais criativo, usando e acumulando menos material.

- Criar marcações no piso para que as crianças mantenham o distanciamento, caso seja decidido por medição de temperatura. Faixas coloridas e círculos podem ajudar muito e tornar a experiência menos impactante para as crianças.

- Diversificar o layout da sala de aula – Pelo distanciamento recomendado, será muito difícil manter o mesmo número de alunos dentro das salas de aula. Sendo assim, o ideal é usar essa nova condição para criar um espaço mais interessante para as crianças. É possível posicionar o mobiliário da sala de aula de uma maneira que otimize a visualização do professor e facilite o aprendizado, incentivando a criatividade e mantendo a distância ideal.

- Usar cores para identificar usos e comportamentos desejados – as cores podem e devem ser usadas de maneira a incentivar a atividade desejada em cada espaço de ensino. Por exemplo, escolha a cor amarela para identificar locais de higienização, como paredes com displays de álcool em gel ou novas pias, e azul para locais onde a criança possa receber apoio emocional. Além disso, as cores podem ser utilizadas para indicar os fluxos desejas pela instituição, tornando-se uma maneira fácil e divertida de aprender.

- Instalar equipamentos de segurança que possam ser usados por todos – novas pias, displays de álcool gel e aparelhos automáticos de medição de temperatura devem ser instalados na altura correta de maneira que todos possam usar. Além disso, é importante não esquecer dos usuários que possuem necessidades especiais.

- Explorar novas entradas e saídas para evitar acúmulo de crianças – isso ajudará quando forem montados os novos horários de fluxo dos alunos, professores e serviços.

- Criar ambientes de apoio emocional – um para aluno e outro para os professores. Este ambiente deve ser localizado de maneira que mantenha a privacidade do usuário.

- Usar luz/sombra – Como algumas pedagogias já sugerem, criar uma atmosfera mais intimista e mais reservada auxilia no desenvolvimento da criatividade individual, no autorreconhecimento e na liberdade de expressão.

- Criar centros de aprendizagem individuais dentro das salas de aulas e, se possível, estender estes espaços para os corredores, obedecendo sempre as recomendações dos Ministérios da Saúde e Educação. Com um número reduzido de alunos na sala de aula, é possível encontrar um espaço maior para direcionar as crianças que precisam de mais atenção.

- Criar displays para cada criança – espaços, mesmo que pequenos, onde cada um pode guardar seu material, mostrar sua produção intelectual e suas preocupações durante essa fase de transição. Isso fortalecerá atitude de expressão emocional, respeito e organização. Toda criança precisa ter um espaço com o qual ela se identifique dentro da sala de aula.

- Usar informação gráfica adequada para cada idade – isso facilitará muito o entendimento da criança. Por exemplo, para crianças pequenas é indicado usar cores alegres e desenhos simplificados das instruções a serem seguidas.

É importante refletir que só aprendemos de verdade quando nos sentimos seguros e quando desenvolvemos uma relação emocional com nosso ambiente de ensino. Muitas destas sugestões são adequações que podem permanecer mesmo quando a normalidade voltar, pois impactam positivamente o bem-estar físico e principalmente emocional dos usuários facilitando o aprendizado.

Ambientes e pedagogias podem oferecer os instrumentos para um tempo de educação mais individualizada, promovendo uma reflexão sobre o indivíduo e consequentemente sobre o coletivo, encorajando o autorreconhecimento e o reconhecimento de cada aluno como um aprendiz, pelo professor, pela escola e pelos pais. Para que, deste modo, quando a socialização voltar a estar presente em cada canto da escola, como deve ser, crianças e professores tenham vivenciado alguns valores que aos poucos estão sendo esquecidos no sistema de educação atual como a autocrítica, o autorreconhecimento, a independência, a autoconfiança e organização, o respeito ao outro indivíduo e ao espaço comum afim de um bem maior. Afinal,  a obrigatoriedade destas adaptações é temporária, mas os conceitos ensinados e aprendidos nesse tempo ficam na memória intelectual e afetiva de todas as crianças.